Era uma vez o lobo bonzinho.
Fiel servidor e devoto do Rei Leão, sua atuação tinha 92% de aprovação da bicharada da floresta.
Mas tinha um lugar onde o lobo não era bem vindo: a cabana da vovó.
Aquela vagabunda não fazia nada, mas era sustentada pelas maçãs que sua neta furtava da floresta em uma cesta, e levava para ela.
Certa vez, os amigos mais próximos do lobo bonzinho elaboraram um plano para acabar com aquela falcatrua.
Afinal de contas, nem a vovó nem a netinha haviam plantado as macieiras.
E a hereditariedade da capitania, fruto do mérito, indicava claramente que aquele solo não as pertencia.
Portanto, ficou estabelecido que todos os bichos da floresta se uniriam para colocar fim àquele desvio espúrio da riqueza da floresta.
Então, o lobo bonzinho foi até a casa da vovó.
Bateu na porta, e a vovó perguntou: "quem é?"
O lobo bonzinho respondeu, do lado de fora: "É o lobo velho, vovó. Vim aqui para trazer justiça; as coisas não podem continuar assim como estão; vamos conversar?"
Então a vovó abriu a porta, e o lobo entrou.
O lobo bonzinho explicou que as maçãs não caiam do céu. Que graças ao esforço da bicharada toda, a floresta dispunha de macieiras. Mas que não fazia sentido as maçãs alimentarem estômagos improdutivos. A floresta ganharia muito mais exportando as maçãs, ainda que a preço de banana! Muito melhor que desperdiçar de graça, não é?
A vovó estava gostando da conversa do lobo, e estava disposta a orientar sua netinha que parasse com aquela loucura de colher maçãs e distribuir para os outros.
Porém, naquele momento, ouviram passos a se aproximar do lado de fora.
O lobo bonzinho, para proteger a vovó do perigo, engoliu-a, vestiu suas roupas, e se deitou em seu lugar na cama.
Quando a porta se abriu: era a netinha. Aquela leviana! Quem ela pensa que enganava? Só mesmo os mal informados!
Roubava a maçã dos investidores e ainda ganhava a simpatia dos ignorantes, cúmplices de suas arbitrariedades.
Chegou com a cesta cheia de frutas desviadas, e perguntou: "Tudo bem com a senhora, vovó? Parece meio diferente... O que houve com o seu nariz, parece que está maior?!"
O lobo bonzinho, para proteger a vovó e toda a floresta, falou a verdade: "Que é isso, menina? Você está mentindo. Meu nariz sempre foi deste tamanho."
A menina, indecente e aparvalhada, continuou disparando ofensas e baixarias: "Mas e esses olhos esbugalhados? E essa boca enorme, vovó?"
O lobo bonzinho, injustamente sendo acusado de ser ele mesmo, rebateu as calúnias: "Estes olhos são para te enxergar melhor. São os grandes olhos da super visão superior."
E, então, prestes a cuspir a vovó pela boca, libertando-a de sua temporária privação, aproximou-se da menina do chapéu vermelho e disse: "Esta boca é para..."
Justamente quando iria redimir a floresta através de sua atuação heróica, o lobo bonzinho foi vítima da maior baixaria de todos os tempos: ELES SABIAM DE TUDO!
A aparentemente inocente garotinha do chapéu vermelho era uma terrorista da pior espécie: havia combinado de antemão com um bando de caçadores, membros da sua quadrilha mafiosa, que a acompanhassem.
Não deram chance de defesa para o lobo bonzinho.
Tendo o que há de pior no sangue, movidos pela sede de poder pelo poder, os bárbaros caçadores acabaram com a vida do lobo - que veio do pó e ao pó voltou.
Não há limites para o que essa raça pode fazer. Todo o cuidado é pouco.
Enquanto o lobo bonzinho queria conversar e trazer justiça, eles - autoritários, arrogantes, sem um pingo de moralidade - só querem saber de sangue. Por isso adoram e veneram a cor vermelha. O vermelho é o símbolo do seu satanismo. A cor da maçã da serpente. Deus nunca veste vermelho. Que raça infeliz. O lugar certo desses peles vermelhas é lá mesmo: queimando no fogo do inferno.
O lobo bonzinho ia libertar a vovó, ia fazer a menina lucrar com exportações de maçã, ia trazer a felicidade geral da floresta... mas quando estava prestes a fazê-lo, os malditos calçadores chegaram.
Luto na floresta.
Armaram uma arapuca para o pobre coitado do lobo bonzinho.
Agora, todo o cuidado é pouco: preparem-se.
Estão espalhando o boato de que era o lobo velho que ia comer a chapéuzinha.
Mas você, que é bem informado, não vai cair nessa.
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"Chapéuzinho Vermelho" - como seria contada pela revista Veja
(escrito por João Bruni em Uberlândia, 29 de outubro de 2014)
Fiel servidor e devoto do Rei Leão, sua atuação tinha 92% de aprovação da bicharada da floresta.
Mas tinha um lugar onde o lobo não era bem vindo: a cabana da vovó.
Aquela vagabunda não fazia nada, mas era sustentada pelas maçãs que sua neta furtava da floresta em uma cesta, e levava para ela.
Certa vez, os amigos mais próximos do lobo bonzinho elaboraram um plano para acabar com aquela falcatrua.
Afinal de contas, nem a vovó nem a netinha haviam plantado as macieiras.
E a hereditariedade da capitania, fruto do mérito, indicava claramente que aquele solo não as pertencia.
Portanto, ficou estabelecido que todos os bichos da floresta se uniriam para colocar fim àquele desvio espúrio da riqueza da floresta.
Então, o lobo bonzinho foi até a casa da vovó.
Bateu na porta, e a vovó perguntou: "quem é?"
O lobo bonzinho respondeu, do lado de fora: "É o lobo velho, vovó. Vim aqui para trazer justiça; as coisas não podem continuar assim como estão; vamos conversar?"
Então a vovó abriu a porta, e o lobo entrou.
O lobo bonzinho explicou que as maçãs não caiam do céu. Que graças ao esforço da bicharada toda, a floresta dispunha de macieiras. Mas que não fazia sentido as maçãs alimentarem estômagos improdutivos. A floresta ganharia muito mais exportando as maçãs, ainda que a preço de banana! Muito melhor que desperdiçar de graça, não é?
A vovó estava gostando da conversa do lobo, e estava disposta a orientar sua netinha que parasse com aquela loucura de colher maçãs e distribuir para os outros.
Porém, naquele momento, ouviram passos a se aproximar do lado de fora.
O lobo bonzinho, para proteger a vovó do perigo, engoliu-a, vestiu suas roupas, e se deitou em seu lugar na cama.
Quando a porta se abriu: era a netinha. Aquela leviana! Quem ela pensa que enganava? Só mesmo os mal informados!
Roubava a maçã dos investidores e ainda ganhava a simpatia dos ignorantes, cúmplices de suas arbitrariedades.
Chegou com a cesta cheia de frutas desviadas, e perguntou: "Tudo bem com a senhora, vovó? Parece meio diferente... O que houve com o seu nariz, parece que está maior?!"
O lobo bonzinho, para proteger a vovó e toda a floresta, falou a verdade: "Que é isso, menina? Você está mentindo. Meu nariz sempre foi deste tamanho."
A menina, indecente e aparvalhada, continuou disparando ofensas e baixarias: "Mas e esses olhos esbugalhados? E essa boca enorme, vovó?"
O lobo bonzinho, injustamente sendo acusado de ser ele mesmo, rebateu as calúnias: "Estes olhos são para te enxergar melhor. São os grandes olhos da super visão superior."
E, então, prestes a cuspir a vovó pela boca, libertando-a de sua temporária privação, aproximou-se da menina do chapéu vermelho e disse: "Esta boca é para..."
Justamente quando iria redimir a floresta através de sua atuação heróica, o lobo bonzinho foi vítima da maior baixaria de todos os tempos: ELES SABIAM DE TUDO!
A aparentemente inocente garotinha do chapéu vermelho era uma terrorista da pior espécie: havia combinado de antemão com um bando de caçadores, membros da sua quadrilha mafiosa, que a acompanhassem.
Não deram chance de defesa para o lobo bonzinho.
Tendo o que há de pior no sangue, movidos pela sede de poder pelo poder, os bárbaros caçadores acabaram com a vida do lobo - que veio do pó e ao pó voltou.
Não há limites para o que essa raça pode fazer. Todo o cuidado é pouco.
Enquanto o lobo bonzinho queria conversar e trazer justiça, eles - autoritários, arrogantes, sem um pingo de moralidade - só querem saber de sangue. Por isso adoram e veneram a cor vermelha. O vermelho é o símbolo do seu satanismo. A cor da maçã da serpente. Deus nunca veste vermelho. Que raça infeliz. O lugar certo desses peles vermelhas é lá mesmo: queimando no fogo do inferno.
O lobo bonzinho ia libertar a vovó, ia fazer a menina lucrar com exportações de maçã, ia trazer a felicidade geral da floresta... mas quando estava prestes a fazê-lo, os malditos calçadores chegaram.
Luto na floresta.
Armaram uma arapuca para o pobre coitado do lobo bonzinho.
Agora, todo o cuidado é pouco: preparem-se.
Estão espalhando o boato de que era o lobo velho que ia comer a chapéuzinha.
Mas você, que é bem informado, não vai cair nessa.
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"Chapéuzinho Vermelho" - como seria contada pela revista Veja
(escrito por João Bruni em Uberlândia, 29 de outubro de 2014)